Por
Fernando Sarráis, “Compreender a afetividade”
Clique aqui e veja o livro em nossa loja virtual.

O medo é uma
emoção cuja finalidade natural é contribuir para a conservação da
vida e do bem-estar, pois nos informa de perigos físicos e
psicológicos, presentes e futuros. É considerado uma emoção negativa
porque, enquanto dura, produz sofrimento, ou seja, é desagradável. Tem a sua origem em estímulos negativos
(perigos) e com frequência produz condutas negativas (fuga, mentira,
submissão).
O medo surge
quando tomamos consciência (conhecimento) de um perigo para
a nossa integridade física e/ou psicológica, e
imediatamente nos impulsiona a realizar alguma
ação orientada a evitar ou minimizar o possível dano que esse
perigo ameaça impor.
Assim, o medo é
um sinal de alarme emocional que informa à razão de que há um perigo real ou imaginário, presente ou futuro. É também um motor
que nos impele a agir em defesa de nós mesmos
ou dos nossos seres queridos. Portanto, o medo tem duas funções:
uma informativa e outra impulsiva (ou energética).
O medo surge
quando a situação que causa sofrimento ainda não é presente, mas
nos instiga a evitá-la. Quanto mais distante for o perigo, menor será
o medo, mas a sua intensidade vai aumentando à medida que essa ameaça se
aproxima no tempo e no espaço, e quanto mais inevitável se mostra. Quando a
intensidade do medo é insuportável ou insofrível, chama-se pânico ou
terror. Estes sentimentos costumam surgir diante de perigos muito graves,
iminentes ou inevitáveis, e impulsionam a realizar condutas irracionais de
fuga.
O medo promove
três tipos de conduta: fuga, inibição ou paralisia, e enfrentamento
ou luta. A conduta que cada um toma em uma situação de medo depende
da sua personalidade, pois ela determina a intensidade do medo,
o tipo de perigo que o desencadeia e o modo de agir em situações de perigo.
Nesse sentido, há dois tipos de personalidade que são extremos
opostos: a temerosa e a temerária.
As pessoas
temerosas tendem a fugir dos perigos sempre que podem, porque
lhes provocam excessivo sofrimento. Já as temerárias tendem a enfrentar
todas as situações de perigo, inclusive aquelas que seriam facilmente
evitáveis, pois se sentem atraídas pela intensa excitação que
tais situações lhes produzem. Para estas, o perigo representa uma fuga do
tédio ou do aborrecimento vital habitual derivado da baixa
sensibilidade emocional que têm diante das vivências agradáveis simples,
ordinárias e cotidianas. Os exemplos mais extremos de pessoas temerárias são
encontrados em indivíduos com personalidade antissocial ou psicopática.
O ser humano
nasce com o conhecimento de poucos perigos, provenientes de medos naturais
relacionados com a sobrevivência biológica: dor, fome, barulhos intensos,
quedas, solidão. É possível
deduzir que a maioria das situações de perigo são aprendidas. A consciência de
que uma realidade concreta é perigosa depende das experiências precoces de
sofrimento que ficam guardadas na poderosa memória
afetiva de cada pessoa.
A intensidade
dos medos que uma pessoa experimenta diante dos perigos também tem a ver
com o aprendizado precoce, mas a sensibilidade emocional com a
qual nascemos, uma das características do temperamento, tem o papel primordial
nisso. Há indivíduos que por temperamento são mais sensíveis que
outros, como as mulheres são mais sensíveis que os homens.
As pessoas
geneticamente mais sensíveis sofrem mais nas experiências dolorosas e,
portanto, desenvolvem medos mais intensos diante de experiências precoces de
sofrimento. Essas pessoas precisam de uma educação especial para adquirir maior
tolerância ao sofrimento e assim diminuir a sua reação natural de medo diante
dos perigos. Se essa educação não é levada a cabo, é provável que
desenvolvam um medo intenso diante de perigos normais ou diante de
coisas e situações sem perigo real e se tornem,
assim, pessoas medrosas.
Há crianças que
são medrosas desde muito pequenas, o que é interpretado como uma
característica temperamental devida à hiper-reatividade dos centros cerebrais
responsáveis pelo medo, especialmente as amígdalas5. Outras vezes, esse
excesso de medo das crianças é
atribuído
a um aprendizado precoce ou à falta de apego afetivo aos cuidadores, que
são os que dão segurança e proteção e evitam o
medo. Pode também ser consequência de uma
educação superprotetora que promove desde a infância conduta de
evitação das situações que causam sofrimento. Como é bem sabido, os medos
são vencidos quando enfrentamos as situações perigosas, e
não fugindo delas.
Ao contrário, os
indivíduos de personalidade psicopática, que possuem uma base temperamental
demonstrada, têm uma afetividade fria e muito pouco sensível e, por isso,
diante das situações perigosas desenvolvem poucos medos e de pequena
intensidade, o que os torna temerários e reincidentes nos seus maus
comportamentos, apesar dos castigos e de qualquer outra tentativa de educação
corretiva.
É possível concluir que há pessoas com um medo normal, que as protege dos
perigos reais; e há outras pessoas com um medo anormal, excessivo ou escasso,
que as faz adoecer por ansiedades e fobias, ou que as converte em seres
perigosos para si mesmos (temerários).
Nenhum comentário:
Postar um comentário