Por M. J. Scheeben, “A Mãe do Senhor”, pág. 24 a
26.
Do Antigo Testamento extraem-se muitas imagens que ilustram a nossa doutrina. São quase todas de uso corrente entre os Padres a partir do século IV, e foram empregadas desde então de maneira unânime e constante. Em primeiro lugar e geralmente, estas imagens têm valor de símbolos sagrados e como tais são um testemunho da opinião daqueles que os aplicam a Maria. Se admitirmos o caráter preparatório das instituições e das revelações divinas do Antigo Testamento, as mais importantes destas imagens podem considerar-se mais ou menos claramente como tipos propriamente ditos, isto é, como exemplos queridos pelo próprio Espírito Santo. Podemos reconhecê-las como tais em parte pela sua relação com as profecias, em parte pela semelhança manifesta com as realidades prefiguradas. As mais seguras e ao mesmo tempo as mais significativas são Eva e o paraíso, a Arca de Noé com a pomba e o ramo de oliveira, a sarça ardente e o tosão de Gedeão, a Arca da Aliança e o trono de Salomão, enfim Ester e Judite.
O tipo de Eva vem do protoevangelho e da Epístola
aos Romanos, em que Adão é apresentado como tipo de Cristo (Rm 5,14-15).
Já é utilizado teologicamente por São Justino,
Santo Ireneu e Tertuliano. Eva é a imagem positiva de Maria na sua unidade e
comunhão com Adão, tanto antes da queda, na sua pureza e virgindade
sobrenaturais, como depois da queda, no seu papel de medianeira da vida natural
para toda a humanidade. Ela é a imagem negativa de Maria, enquanto aniquilada
após a queda.
Considerando que o novo Adão devia nascer da mulher
como “fruto da mulher”, os Padres consideram Eva como imagem da terra ainda não
profanada e amaldiçoada, da qual o primeiro Adão foi formado, e como imagem do
paraíso plantado por Deus e destinado ao primeiro Adão, como sua morada. Por
outro lado, o novo Adão, na sua oposição ao primeiro, é prefigurado pela árvore
da vida, ou melhor, pelo fruto desta. O tipo de Maria encontra-se, pois, no
campo do paraíso, o qual, segundo o Gênesis (Gn 2,5), ainda não estava
fecundado pela chuva e pelo trabalho do homem, isto é, pela semente natural,
mas unicamente pelo vapor das águas da criação. A imagem da terra recentemente
criada, submetida exclusivamente à mão e ao sopro de Deus, da qual Adão e a
própria árvore da vida foram tirados, é tradicionalmente tão antiga como a de
Eva.
Enfim, assim como Cristo, princípio celeste da vida
celeste da humanidade, foi figurado na primeira criação pelo sol, fonte da luz,
assim Maria, segundo luminar celeste que recebe a sua luz do sol, foi
representada pela luz da aurora que precede o aparecimento do sol, pela lua, ou
enfim pelo céu, sede do sol. Como antítipo da Eva pecadora, isto é, como
instrumento da vitória redentora sobre os inimigos de Deus, Maria é nitidamente
prefigurada pelas mulheres do Antigo Testamento que desempenharam em diversas
épocas um papel importante na libertação de Israel, nomeadamente por Ester e
Judite.
Todas as vitórias sobre os inimigos temporais do
povo judeu prefiguravam as vitórias espirituais de Cristo, e Maria teve uma
parte preponderante nelas. As heroínas vitoriosas particularmente louvadas pelo
povo de Deus mantêm uma relação muito especial com Maria, prefigurada como
companheira de Cristo na sua luta e no seu triunfo. De fato, as duas figuras,
que se completam mutuamente, refletem da maneira mais rica e mais significativa
os privilégios de Maria.
A Arca de Noé constitui também uma representação de
Maria.
Elevada acima das águas do dilúvio, salva os homens
que contém e faz sair do seu seio a semente da nova população da terra. A mesma
prefiguração encontramos na pomba com o ramo de oliveira, quando anuncia aos
homens salvos do dilúvio que a terra está livre da maldição do pecado e que recebeu
uma bênção nova. A Arca de Noé conduz ao tipo da arca de aliança, imagem de
Maria por causa da sua união única com Deus e da sua posição mediadora entre
Deus e os homens. Os Padres veem esta união com Deus prefigurada no fato de a
Arca da Aliança ser o altar santo e o trono de Deus, repletos da glória do
Senhor, e conter as tábuas da Lei e o maná que representa a verdade e a graça
divina, bem como a vara de Aarão, símbolo do sacerdócio. Esta Arca, construída
de madeira indestrutível, recamada de ouro puro por dentro e por fora, é para
eles a imagem da integridade perfeita e da plenitude de graça de Maria.
Aplicam ainda a Maria as imagens da urna de ouro
que se encontra na Arca da Aliança e contém o maná, do Santo dos Santos do
tabernáculo que contém a Arca da Aliança, e do próprio tabernáculo na sua
qualidade de “morada santa”, “palácio real de Deus”, “tenda do testemunho” e
“lugar de encontro com Deus”. Aplicam a Maria a imagem dos objetos e vasos
preciosos e sagrados que se encontram no templo, em particular no santo,
especialmente o altar de ouro do incenso, o turíbulo de ouro, o candelabro dos
sete braços e a mesa dos pães da proposição. Cristo é concebido como objeto
essencialmente cheio de fogo, de luz e de vida da divindade, nomeadamente como
incenso espiritual, como “carvão ardente”, como lâmpada de luz eterna e como
pão da vida eterna. Acrescente-se a porta oriental descrita por Ezequiel na sua
visão do templo (Ez 4,3-5), pela qual a glória do Senhor entra no templo e que
deve permanecer fechada a todo o homem.
Relacionada com a Arca da Aliança e o tabernáculo
como lugar de encontro, explica-se também a tipologia dos sinais anteriores ou
dos meios pelos quais Deus desceu até aos homens, em particular a escada de
Jacob (Gn 28,12), a “terra santa”, onde Deus apareceu a Moisés na sarça
ardente, a própria sarça (Ex 3,2), e por fim as montanhas santas, como as do
Sul: o Sinai, o Seir e o Pharam, sobre as quais Deus se revelou a todo o povo
(Dt 33,2 e Hab 3,3) e a montanha do Senhor em Jerusalém, o monte de Sião. Entre
estes tipos, situa-se também o trono de Salomão, todo de marfim e ouro (1Rs
10,18).
As imagens miraculosas tantas vezes empregadas da
vara de Aarão que produz flores e frutos (Nm 17), do tosão de Gedeão umedecido
pelo orvalho celeste e da nuvenzinha que Elias viu subir do mar e da qual veio
a chuva ardentemente desejada (1Rs 18,44), justificam-se pela sua semelhança
surpreendente. Mais remoto é o sentido de muitas outras imagens também
empregadas.
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